sábado, 28 de agosto de 2010
Nossa História
Celso Athayde, Cacá Diegues, Cufa e 5x Favela
No início a Cufa era formada por três jovens, depois por quinze, e por fim aproximadamente 150 jovens se reuniam para conversar e trocar idéias, o que por sinal, atualmente ainda acontece na Cidade de Deus. O Fórum consistia em convidar qualquer ser humano para discutir algum assunto e os jovens da Cufa participavam dos encontros para desenvolver seu potencial e senso crítico.
Os temas dos debates eram os mais diversos, e mesmo que em geral não fosse este nosso principal interesse, não desmerecendo a importância em debater e realizar discussões, mas pela urgência e a nossa sede em colocar tudo o que ali era discutido em prática, participar nunca foi um problema, ao contrário, acreditávamos e ainda acreditamos que estar com aquelas pessoas era uma forma de integração social. A troca que se dava era em alguma medida uma forma de nos inserir socialmente.
Conseguíamos levar para esses encontros uma série de discussões, que ficaria para a nossa história, a exemplo, o encontro que tivemos sobre energia nuclear, em que um físico palestrante queria nos fazer entender sobre o césio 137, urânio enriquecido e outras loucuras da física. Em outros encontros também contamos com a participação de craques, dos mais diversos seguimentos, como Marina Maggessi, Rafael Dragaud, Pedro Stédile (MST), Orlando Silva, João Moreira Salles, só pra citar alguns...
Por fim, o grande e mágico momento aconteceu, quando resolvemos convidar o cineasta, Cacá Diegues, para falar sobre cinema novo. Ao fim desse encontro surge a primeira ação concreta da Cufa, que na época se quer nome tinha, iniciava-se ali o curso de audiovisual da Cufa em Madureira. Cacá conseguiu fazer aqueles jovens das favelas que não tinham nenhum interesse em cinema, enxergarem um futuro, perceber uma chance, acreditar que era possível existir. Acreditamos, batizamos o curso de audiovisual de Cabo (Cacá Botafoguense), foi uma homenagem a esse cara, que nos tirou das reuniões, que mais pareciam masturbação coletiva, e nos atirou para a prática do audiovisual, que hoje passou a ser a área de atuação da Cufa mais importante. Mas que isso, começa ali a partir do audiovisual a existência da Cufa como organização, conceito e instituição.
Mas essa história vocês ficarão sabendo no final do ano, quando o livro da Cufa estiver pronto, esse texto que não precisa ser lido, é para falar da gratidão que temos por esse cidadão, do quanto devemos a ele, o quanto acreditamos nele, o quanto o amamos, e por fim, para testemunhar que estamos vivendo um momento histórico, que começou quando Cacá Diegues e Renata Magalhães resolveram reeditar o projeto 5 X Favela, Agora Por Nós Mesmos.
Para dar vida ao projeto, Cacá e Renata convidaram para essa guerra, centenas de jovens do Rio, amigos, parentes, empresas, poder público e claro, nós do F4 (Afroreggae, Observatório de Favelas, Nós do Morro e Cufa) pra colaborar. Sabíamos que a única pessoa no Brasil que estaria acima de qualquer discussão, dúvidas, ética, moral, responsabilidade e profissionalismo, a única que seria capaz de levar o nosso sentimento ao mundo, sem estereótipos, e sem imprimir compaixão, era esse senhor genial, sereno e gentil, que tem a capacidade rara de agregar e construir. O projeto era nosso caminho, nossa verdade e passou a ser nossa vida.
Cacá, nesses cursos da Cufa por ele ministrado, pregava e incentivava o protagonismo, mas sobre tudo a preparação e a qualificação, para que o protagonismo não fosse apenas um conceito, mas um fato. Hoje ao ver o projeto, nosso projeto, projeto dos favelados e não favelados, sair efetivamente do papel, pela primeira vez na vida, vou poder ir ao cinema com minha família para assistir algo que verdadeiramente pertence a todos, tendo esse casal como singelos guias. E tão nobre quanto guiar é poder escolher as mentes que nos conduz. Esse é o nosso privilégio. Por isso estou convencido de que o Brasil, o audiovisual, e a expressão FAVELA se dividem em duas fases, uma antes e a outra depois desse filme.
5 X Favela não pertence a Renata Magalhães, tão pouco a Cacá Diegues, mas a sociedade brasileira. Temos a obrigação de ir ao cinema, não apenas para assistir a um grande filme, ou para prestigiar os novos gênios do cinema brasileiro, mas para nos juntar a maior intervenção social do nosso tempo.
1 milhão de X Favela! Todo mundo junto, todo mundo misturado a partir de sexta-feira, dia 27 de agosto.
Confira os locais de exibição no site http://www.5xfavela.com.br