sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
A
Após a tomada de território marcada pelo conflito entre traficantes e polícia, a situação nos morros no Rio de Janeiro, até então dominados pelo crime, é de mudança constante. O cotidiano no Complexo do Alemão e nos 13 morros que contam com a vigilância das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) parece ter voltado à normalidade, segundo a própria população.
Apesar da aparente tranquilidade nas comunidades, Celso Athayde, coautor dos livros Falcão - Mulheres e o Tráfico e Falcão - Meninos do Tráfico, aponta o tráfico como um problema além do Rio. "O problema é nacional e se alimenta na corrupção, que é o mal de todos os males".
O RedeTVi conversou com o escritor, produtor musical e fundador da CUFA (Central Única das Favelas) - a organização que atua em mais de 300 cidades e 15 países - sobre a convivência da população com as armas, a atuação da polícia nas comunidades e legalização das drogas.
Em seu Twitter, você citou a necessidade de uma ouvidoria da polícia para a população. Como você analisa a relação da polícia com a população, principalmente a que ocupa os morros do Rio?
Celso Athayde - Não dá pra ser irresponsável e sair por aí criticando a polícia como se eles fossem o mal da sociedade, não são. O problema é que eles ganham, ao contrário de todas as funções, para combater e prender as práticas criminosas. Então quando o crime parte deles é sempre mais alarmante. Eu tinha dito que eles [policiais] estavam perto de serem recebidos como heróis pela cidade, mas logo em seguida entra o mundo real, a relação promíscua e covarde de parte deles contra uma população já infeliz com suas tragédias. A relação não é boa, qualquer pesquisa mostra isso, mas a população ainda prefere a polícia a qualquer outra relação com supostos seguranças.
Na sua opinião, o convívio diário com armas traz quais conseqüências para o povo?
Celso Athayde - 80% dos moradores tem menos de 50 anos e já nasceram nessas condições, não tem novidade, as pessoas aprendem a tolerar suas tragédias, apesar de não se acostumar nunca com elas. Na minha opinião, a consequência é a mesma de Copacabana: sensação de segurança. O problema é que a polícia em geral não consegue tratar as pessoas da mesma forma, pois quem mora nesses dois ambientes são vistos e tratados de maneira diferente.
Você acha que a descriminalização das drogas pode ser um fator que enfraqueceria o tráfico?
Celso Athayde - Não podemos continuar encarcerando jovens de 13 anos como traficantes por estarem vendendo drogas para homens do asfalto. Consciente do seu papel, se a favela formulasse as leis iria inverter essa lógica, e ainda, imporia uma agravante como aliciador de menor. Penso que enfraqueceria sim, mas fortaleceria outros crimes, pois o problema não é a venda de drogas, mas uma série de jovens que também querem ser feliz e pagam qualquer preço para ter acesso aos bens que o capitalismo impõe. Claro que eu desejo que eles todos tenham oportunidades e disposição para trabalhar, mas claro, não vai ser assim para todos.
Qual é sua opinião sobre a legalização da maconha?
Celso Athayde - De onde eu venho, maconheiro é sinônimo de otário. Grandes traficantes, inclusive, não usam e não permite que seus familiares usem. Não vejo na maconha um problema, mas a questão é que os mesmos argumentos servem para as outras drogas. Eu não consigo ver uma população usando crack e merla, por exemplo. Isso seria como uma arma de destruição em massa.
Como é observar que este panorama pode começar a mudar a partir de agora?
Celso Athayde - Fico feliz por ver essa expectaviva, publicamente eu dou força. Mas pessoalmente não sou tão otimista. Essas ações são pontuais e simbólicas, mas o crime está em todas as favelas do Rio. E não é essa discussão que tenho visto. Logo, não vejo conexão entre a solução para os problemas do tráfico e a paz no Rio. Vejo sim, boa vontade do estado em dar respostas possíveis para tranquilizar a população. O problema é nacional e se alimenta na corrupção, que é o mal de todos os males. Se for possível combater a corrupção, então todos os males serão resolvidos.
Apesar da aparente tranquilidade nas comunidades, Celso Athayde, coautor dos livros Falcão - Mulheres e o Tráfico e Falcão - Meninos do Tráfico, aponta o tráfico como um problema além do Rio. "O problema é nacional e se alimenta na corrupção, que é o mal de todos os males".
O RedeTVi conversou com o escritor, produtor musical e fundador da CUFA (Central Única das Favelas) - a organização que atua em mais de 300 cidades e 15 países - sobre a convivência da população com as armas, a atuação da polícia nas comunidades e legalização das drogas.
Em seu Twitter, você citou a necessidade de uma ouvidoria da polícia para a população. Como você analisa a relação da polícia com a população, principalmente a que ocupa os morros do Rio?
Celso Athayde - Não dá pra ser irresponsável e sair por aí criticando a polícia como se eles fossem o mal da sociedade, não são. O problema é que eles ganham, ao contrário de todas as funções, para combater e prender as práticas criminosas. Então quando o crime parte deles é sempre mais alarmante. Eu tinha dito que eles [policiais] estavam perto de serem recebidos como heróis pela cidade, mas logo em seguida entra o mundo real, a relação promíscua e covarde de parte deles contra uma população já infeliz com suas tragédias. A relação não é boa, qualquer pesquisa mostra isso, mas a população ainda prefere a polícia a qualquer outra relação com supostos seguranças.
Na sua opinião, o convívio diário com armas traz quais conseqüências para o povo?
Celso Athayde - 80% dos moradores tem menos de 50 anos e já nasceram nessas condições, não tem novidade, as pessoas aprendem a tolerar suas tragédias, apesar de não se acostumar nunca com elas. Na minha opinião, a consequência é a mesma de Copacabana: sensação de segurança. O problema é que a polícia em geral não consegue tratar as pessoas da mesma forma, pois quem mora nesses dois ambientes são vistos e tratados de maneira diferente.
Você acha que a descriminalização das drogas pode ser um fator que enfraqueceria o tráfico?
Celso Athayde - Não podemos continuar encarcerando jovens de 13 anos como traficantes por estarem vendendo drogas para homens do asfalto. Consciente do seu papel, se a favela formulasse as leis iria inverter essa lógica, e ainda, imporia uma agravante como aliciador de menor. Penso que enfraqueceria sim, mas fortaleceria outros crimes, pois o problema não é a venda de drogas, mas uma série de jovens que também querem ser feliz e pagam qualquer preço para ter acesso aos bens que o capitalismo impõe. Claro que eu desejo que eles todos tenham oportunidades e disposição para trabalhar, mas claro, não vai ser assim para todos.
Qual é sua opinião sobre a legalização da maconha?
Celso Athayde - De onde eu venho, maconheiro é sinônimo de otário. Grandes traficantes, inclusive, não usam e não permite que seus familiares usem. Não vejo na maconha um problema, mas a questão é que os mesmos argumentos servem para as outras drogas. Eu não consigo ver uma população usando crack e merla, por exemplo. Isso seria como uma arma de destruição em massa.
Como é observar que este panorama pode começar a mudar a partir de agora?
Celso Athayde - Fico feliz por ver essa expectaviva, publicamente eu dou força. Mas pessoalmente não sou tão otimista. Essas ações são pontuais e simbólicas, mas o crime está em todas as favelas do Rio. E não é essa discussão que tenho visto. Logo, não vejo conexão entre a solução para os problemas do tráfico e a paz no Rio. Vejo sim, boa vontade do estado em dar respostas possíveis para tranquilizar a população. O problema é nacional e se alimenta na corrupção, que é o mal de todos os males. Se for possível combater a corrupção, então todos os males serão resolvidos.
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